METAMORFOSE!

METAMORFOSE
*(autor desconhecido)

Jogou a noite toda!

Não parou para nada. Estava infernal. Acertava tudo! Chegou em casa com as pernas dormentes. Caiu na cama como estava e sonhou com a noitada sem parar.

De manhã, não sabia precisar a hora, tentou se movimentar e não conseguiu. Achou que estava sonhando. Riu consigo mesmo e tentou de novo. Nada. Estava imóvel. Quem sabe virar de lado, pensou, mas não adiantou. Estava completamente imóvel. Imóvel e duro.

Não conseguia mover um músculo. Nunca tinha se sentido assim. Começou a se assustar. Tentou chamar alguém. Em vão. Não conseguia sequer olhar. Assustou-se. O que estaria ocorrendo?

Não sentia dor alguma, nem mal estar, apenas estava parado. Não sentia pernas e nem braços. Nada. Mas estava vivo! Sentia as próprias palpitações. Achava até que suava. Seria impressão?

De repente alguém entrou no quarto, mas estava um pouco escuro, não conseguia distinguir as feições. Tentou falar. Inútil. Conformado esperou os acontecimentos.

Subitamente foi levantado de onde estava e sentiu-se muito leve. Nenhuma vontade de reagir. Foi colocado em uma superfície plana, lisa e rígida, mas muito sua conhecida. Extensa, muita extensa.
Meus Deus! Será possível? Ele era um botão. Que loucura!

Uma vez tinha lido sobre alguém que também se transformara em alguma coisa durante a noite, mas não lembrava direito.

Imediatamente se deu conta de tudo. Era plano e liso em cima. Sentiu o deslizar da palheta, era mais que um carinho. Ela estava quase chegando na sua beirada. Ficou preparado. De repente partiu como um raio em direção a bolinha, mas bateu na borda da mesa, com força. Foi um delírio!

Não queria acordar mais. Estava muito bom assim. Como num passe de mágica não tinha mais compromisso algum na vida, a não ser acertar na bolinha. Ser titular. Seria lustrado, polido e guardado com carinho. Seria ainda parafinado... Ah! O frescor da parafina, que prazer!

Às vezes ficava de pernas para o ar, mas logo voltava a posição normal. Passava horas quieto, dentro da caixa, esperando uma oportunidade.

Angustias, desemprego, inflação, stress, obrigações com a família, tudo tinha ficado para trás. Nem lembrava o seu próprio nome. Parentes, o que eram parentes? Agora tinha nome de craque!

Tinha companheiros iguais ou parecidos, também silenciosos. Às vezes passavam por ele a mil por hora e se esborrachavam logo ali adiante, mas como ele, pareciam também indestrutíveis. Como ele, eram bem tratados e como ele, não se comunicavam entre si, estavam sempre quietos. “Estavam lá com os seus botões”.

A felicidade eterna. Nada de mal poderia mais acontecer, pensou. Ledo engano.

Mas o que seria aquilo? De repente estava sendo levado para uma sala estranha. Muitas máquinas, tornos, furadeiras, escavadeiras,...Seria desmanchado?, transformado em camadas?, transformado em ficha?, transformado em goleiro?, transformado em cavador?,...Em mãos de qual botonista tarado, louco, maníaco, esquizofrênico, ... teria caído?

Impossível prever a próxima metamorfose!
*Contribuição: Obereci

Comentários

  1. seria transformado em cavador e negociado....direto p/ caixa do zamorano...triste destino!!

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  2. Parabens pelo texto; excelente narrativa.
    muito folego mesmo ao conta a estória.
    saludos,
    Roger

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  3. E se esse botão fosse pra caixa do Nelson?
    Júnior...

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