COLUNA DO COELHO - PARTE I
*ESPAÇO TERCEIRIZADO E DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO COLUNISTA
O Brasil é o Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro é a América do Sul.
Afinal, deu zebra na escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede da próxima olimpíada ou a primeira olimpíada em território sul-americano foi a conclusão lógica deste momento particularmente especial que o Brasil enfrenta em sua imagem no exterior?
Desde a consolidação da moeda, com o fim dos períodos de incerteza, troca de zeros e mudanças de papel impresso e nome, o Brasil iniciou uma caminhada em busca de uma identidade definitiva, já que país do futebol, terra do samba e da mulata pouco definia este gigante adormecido, que continuava a ver-se através dos reflexos ora norte-americanos ora europeus.
Uma das formas de identidade de uma nação no exterior é identificá-la com aquilo que produz. Tão forte é este aspecto que ainda hoje quando pensamos em chá, imediatamente vem a nossas mentes a Inglaterra. Mesmo que o famoso chá inglês tenha como principal elemento a erva indiana, o produto manufaturado é inglês, e ele impõe, através de sua marca, a identidade do país que o produz, como produto final. O Brasil, de tantas etnias, cabedal de múltiplas culturas e raças, padecia de uma identidade. Com tantos desacertos econômicos, exportando basicamente produtos primários, como definir-se de outra forma?
Mas o Brasil hoje é o país do crescimento econômico, dono de um mercado que atrai milhões e milhões de euros em investimento, citado pelo mundo financeiro como um dos três emergentes mais significativos, onde há espaço para demanda de produtos, consumo, e produção. Ainda que não esqueçamos que pagamos uma das maiores taxas de juros do mundo com todas as suas conseqüências nefastas! Mas, enfim, remuneração como a nossa, investidor algum irá encontrar em outro lugar do planeta.
Nossa política exterior, sempre pautada pelo não intervencionismo, tímida e dissimulada e porque não dizer submissa aos interesses americanos vem dando mostras de que esteja encontrando um caminho próprio, pois vem se impondo junto as nações em desenvolvimento, e busca obstinadamente uma vaga no conselho de segurança da ONU, embora pareça não dar importância aos custos inerentes a esta pretensão. Participando mais ativamente na liderança e mediação de questões em solo americano, embora às vezes, à custa de alguma trapalhada, como no episódio da embaixada brasileira em Honduras.
Pois bem. Este Brasil tão acostumado em crer em seu eterno “desenvolvimento” – espécie de gerúndio eterno – sente-se hoje capaz de assumir a responsabilidade – financeira, esportiva, estrutural (em lato senso) e política – de sediar uma olimpíada. E investirá bilhões de reais para honrar este compromisso, pela necessidade de atualizar sua atual deficiente infra-estrutura. Desde estádios, ginásios, locais de treinos dos eventos até as acomodações, sejam na vila olímpica ou na rede hoteleira, passando por uma reestruturação do trânsito, restaurantes, bares, segurança pública, só pra ficar nestes poucos exemplos.
O Brasil firma-se como o país dos grandes eventos da próxima década. Tendo cumprido o dever de casa por ocasião da organização dos jogos pan-americanos, irá sediar a próxima Copa do Mundo e dois anos depois, receberá no Rio de Janeiro, toda a comunidade olímpica do planeta.
Li e ouvi críticas diversas a pretensão carioca de sediar a primeira olimpíada sul-americana antes da escolha do Rio de Janeiro como sede, e ouvi outras mais após a sua confirmação. E só posso classificar de miopia cultural tal posicionamento! O Brasil precisa investir em infra-estrutura e terá que fazê-lo, pois assim se comprometeu com a comunidade internacional. E isso é extraordinariamente positivo! Todos os investimentos que serão feitos – e, diga-se de passagem, não serão poucos! – são investimentos já há muitas décadas necessários e que agora finalmente sairão do papel para a realidade. Infelizmente, em nosso país ainda precisamos, para investir em setores hoje tão abandonados pelo estado em todos os níveis, trazer estes mega eventos para nossa terra.
Não tenho dúvida alguma que o desenvolvimento que vem de baixo para cima é aquele que definitivamente transforma a sociedade. E é isto que será feito: quando se for o circo do futebol e o olímpico, todos estes investimentos ficarão no Brasil e no Rio de Janeiro, e estes investimentos gigantescos se reverterão em locais de desenvolvimento esportivo, das comunidades que os terão sob sua gestão, assim como as melhorias públicas que também permanecerão. Mais espaço para o esporte, mais crianças envolvidas em projetos que as retirarão das ruas, e as conduzirá para uma possibilidade de um futuro melhor. Barcelona atualizou-se e desenvolveu-se de forma gigantesca após sediar a sua olimpíada. Perguntem para quem vive ou viveu lá. Observem que, agora, discutem vigorosamente soluções para o trânsito já caótico de Porto Alegre, preocupados com esta sede da Copa do Mundo. Bom, antes tarde do que nunca, digo eu. Ainda bem.
O Rio de Janeiro é, sem dúvida alguma, das capitais, aquela em que se notam mais facilmente as nossas mazelas sociais: os contrastes econômicos entre praias e prédios luxuosos e a proximidade das favelas, o linguajar culto misturado a gírias dos morros. O pobre que vive bem próximo do rico, e talvez perceba com maior nitidez o tamanho de sua exclusão social. O Shopping que faz esquina com o barraco. O Rio de Janeiro desnuda o Brasil e expõe o flagelo social de uma nação cuja injusta e gigantesca concentração de renda remete para a marginalização milhares de jovens que nascem e crescem sem futuro algum. E o que se pode esperar de jovens que crescem sem futuro? Que não resistam em nome da própria subsistência?
O Brasil é o Rio de Janeiro até a próxima olimpíada. E o Rio de Janeiro será o mundo por muito tempo: recebemos um voto de confiança, e seremos observados com maior intimidade. Que possamos estar a altura deste voto e que tenhamos sabedoria para, a partir deste mega investimento sócio esportivo, darmos definitivamente a largada para um incremento sem precedentes em projetos sociais, conquistando o futuro iluminado pela tocha e o espírito olímpicos.
E que Deus salve a América do Sul.
Porto Alegre, 02 de outubro de 2009. Um dia histórico, tenham bem em conta isso.
Jorge Luiz Coelho.
Afinal, deu zebra na escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede da próxima olimpíada ou a primeira olimpíada em território sul-americano foi a conclusão lógica deste momento particularmente especial que o Brasil enfrenta em sua imagem no exterior?
Desde a consolidação da moeda, com o fim dos períodos de incerteza, troca de zeros e mudanças de papel impresso e nome, o Brasil iniciou uma caminhada em busca de uma identidade definitiva, já que país do futebol, terra do samba e da mulata pouco definia este gigante adormecido, que continuava a ver-se através dos reflexos ora norte-americanos ora europeus.
Uma das formas de identidade de uma nação no exterior é identificá-la com aquilo que produz. Tão forte é este aspecto que ainda hoje quando pensamos em chá, imediatamente vem a nossas mentes a Inglaterra. Mesmo que o famoso chá inglês tenha como principal elemento a erva indiana, o produto manufaturado é inglês, e ele impõe, através de sua marca, a identidade do país que o produz, como produto final. O Brasil, de tantas etnias, cabedal de múltiplas culturas e raças, padecia de uma identidade. Com tantos desacertos econômicos, exportando basicamente produtos primários, como definir-se de outra forma?
Mas o Brasil hoje é o país do crescimento econômico, dono de um mercado que atrai milhões e milhões de euros em investimento, citado pelo mundo financeiro como um dos três emergentes mais significativos, onde há espaço para demanda de produtos, consumo, e produção. Ainda que não esqueçamos que pagamos uma das maiores taxas de juros do mundo com todas as suas conseqüências nefastas! Mas, enfim, remuneração como a nossa, investidor algum irá encontrar em outro lugar do planeta.
Nossa política exterior, sempre pautada pelo não intervencionismo, tímida e dissimulada e porque não dizer submissa aos interesses americanos vem dando mostras de que esteja encontrando um caminho próprio, pois vem se impondo junto as nações em desenvolvimento, e busca obstinadamente uma vaga no conselho de segurança da ONU, embora pareça não dar importância aos custos inerentes a esta pretensão. Participando mais ativamente na liderança e mediação de questões em solo americano, embora às vezes, à custa de alguma trapalhada, como no episódio da embaixada brasileira em Honduras.
Pois bem. Este Brasil tão acostumado em crer em seu eterno “desenvolvimento” – espécie de gerúndio eterno – sente-se hoje capaz de assumir a responsabilidade – financeira, esportiva, estrutural (em lato senso) e política – de sediar uma olimpíada. E investirá bilhões de reais para honrar este compromisso, pela necessidade de atualizar sua atual deficiente infra-estrutura. Desde estádios, ginásios, locais de treinos dos eventos até as acomodações, sejam na vila olímpica ou na rede hoteleira, passando por uma reestruturação do trânsito, restaurantes, bares, segurança pública, só pra ficar nestes poucos exemplos.
O Brasil firma-se como o país dos grandes eventos da próxima década. Tendo cumprido o dever de casa por ocasião da organização dos jogos pan-americanos, irá sediar a próxima Copa do Mundo e dois anos depois, receberá no Rio de Janeiro, toda a comunidade olímpica do planeta.
Li e ouvi críticas diversas a pretensão carioca de sediar a primeira olimpíada sul-americana antes da escolha do Rio de Janeiro como sede, e ouvi outras mais após a sua confirmação. E só posso classificar de miopia cultural tal posicionamento! O Brasil precisa investir em infra-estrutura e terá que fazê-lo, pois assim se comprometeu com a comunidade internacional. E isso é extraordinariamente positivo! Todos os investimentos que serão feitos – e, diga-se de passagem, não serão poucos! – são investimentos já há muitas décadas necessários e que agora finalmente sairão do papel para a realidade. Infelizmente, em nosso país ainda precisamos, para investir em setores hoje tão abandonados pelo estado em todos os níveis, trazer estes mega eventos para nossa terra.
Não tenho dúvida alguma que o desenvolvimento que vem de baixo para cima é aquele que definitivamente transforma a sociedade. E é isto que será feito: quando se for o circo do futebol e o olímpico, todos estes investimentos ficarão no Brasil e no Rio de Janeiro, e estes investimentos gigantescos se reverterão em locais de desenvolvimento esportivo, das comunidades que os terão sob sua gestão, assim como as melhorias públicas que também permanecerão. Mais espaço para o esporte, mais crianças envolvidas em projetos que as retirarão das ruas, e as conduzirá para uma possibilidade de um futuro melhor. Barcelona atualizou-se e desenvolveu-se de forma gigantesca após sediar a sua olimpíada. Perguntem para quem vive ou viveu lá. Observem que, agora, discutem vigorosamente soluções para o trânsito já caótico de Porto Alegre, preocupados com esta sede da Copa do Mundo. Bom, antes tarde do que nunca, digo eu. Ainda bem.
O Rio de Janeiro é, sem dúvida alguma, das capitais, aquela em que se notam mais facilmente as nossas mazelas sociais: os contrastes econômicos entre praias e prédios luxuosos e a proximidade das favelas, o linguajar culto misturado a gírias dos morros. O pobre que vive bem próximo do rico, e talvez perceba com maior nitidez o tamanho de sua exclusão social. O Shopping que faz esquina com o barraco. O Rio de Janeiro desnuda o Brasil e expõe o flagelo social de uma nação cuja injusta e gigantesca concentração de renda remete para a marginalização milhares de jovens que nascem e crescem sem futuro algum. E o que se pode esperar de jovens que crescem sem futuro? Que não resistam em nome da própria subsistência?
O Brasil é o Rio de Janeiro até a próxima olimpíada. E o Rio de Janeiro será o mundo por muito tempo: recebemos um voto de confiança, e seremos observados com maior intimidade. Que possamos estar a altura deste voto e que tenhamos sabedoria para, a partir deste mega investimento sócio esportivo, darmos definitivamente a largada para um incremento sem precedentes em projetos sociais, conquistando o futuro iluminado pela tocha e o espírito olímpicos.
E que Deus salve a América do Sul.
Porto Alegre, 02 de outubro de 2009. Um dia histórico, tenham bem em conta isso.
Jorge Luiz Coelho.
Ainda bem que o Coelho deu uma resumida, senão ficaria muito grande.
ResponderExcluirFelipe, coloca o video da atolada duma vez.
Caro Felipe,
ResponderExcluirpor favor, bota outra foto aí.
Quinhos:
parece longo, mas as fotos que o felipe pôs é que dão esta impressão... ehehehe...
Quinhos, vídeo da "atolada"?!! Ficou esquisita esta frase... kkkkkkkkkk Infelizmente só tenho fotos do "evento", logo estarão postadas, aguarde.
ResponderExcluirCoelho, as fotos só deram um charme a mais para o teu texto..e a tua foto ficou bacana, relaxa e já prepara a próxima coluna.
Abraços
Eu achei legal as fotos no texto.
ResponderExcluirestou achando feia a da coluna...