COLUNA DO COELHO: BM 3 X 0 AVANTE

FERROLHO*

*(ô). [Do lat. veruculu, com infl. de ferro, poss.]S. m. 1. Tranqueta corrediça de ferro, com a qual se fecham portas e janelas. 2. Bras. Fut. Retranca (5).3. Bras. PE Passo do frevo em que o dançarino se movimenta em diagonal, seguido de flexão dos joelhos da direita para a esquerda e vice-versa, alternando para a frente e para trás, descrevendo uma circunferência.[Pl.: ferrolhos (ô). Cf. ferrolho, do v. ferrolhar.]

O que posso eu dizer diante do que vi ontem? Quase todos os fatores tanto fora de campo assim como dentro foram favoráveis: o discurso do Felipe, em primeiro lugar, observando o caráter provisório de seu trabalho fora de campo; sua preocupação única e exclusiva no que ele achava ser o melhor para o grupo ao escalar os jogadores e determinar estratégia e funções; a dedicação tática e entrega na luta em campo de todos os jogadores; um adversário que pareceu subestimar nosso time talvez por ter analisado nossa campanha até então ou nossa posição na tabela de classificação; um gol algo improvável, mas na hora certa; o pênalti muito bem defendido pelo Diego...

Quando o Felipe disse sobre o caráter provisório de sua função naquele momento, a razão é simplesmente encontrada no imenso potencial esportivo e competitivo que ele ainda pode trazer para o grupo dentro de campo. O ideal seria termos um técnico fora que partilhasse com ele de sua experiência e conhecimento, na escalação bem como nas sugestões sobre estratégia e alterações. Por que eu digo isso? Porque sua reedição do ferrolho ontem foi a estratégia de quem entende muito bem o momento do time, e tivemos uma escalação onde cada potencial do jogador pôde ser aproveitado ao máximo na função escolhida, em harmonia com a estratégia montada para o jogo. A força e velocidade do Palermo estiveram em harmonia com a função exigida dele, e assim por diante, só para citar um exemplo.

Foi um jogo onde até o final do primeiro tempo o adversário não parecia entender o que estava ocorrendo, o que motivou até mesmo brincadeiras minha e do Toledo, quando um dos melhores jogadores deles, meio que falando consigo próprio, repetiu várias vezes não entender alguma coisa. E nós imediatamente emendamos: ele não entende o que o ferrolho está fazendo com eles!
Houve uma surpreendente superação de nosso time na parte tática e principalmente na motivação, empenho. Digo surpreendente, porque até o jogo de ontem em jogo algum nosso neste campeonato, nem contra o Mônaco, estivemos tão coesos, tão interessados no jogo, tão dedicados e motivados. Nossa motivação foi tanta que, em minha opinião, foi o fator maior para obtermos a vitória. Superamos nossas limitações físicas e técnicas. Superamos o cansaço. Nossa posição desesperada na tabela exigia de nós exatamente uma atuação de superação completa, e conseguimos, com intensa concentração sem perder o foco mesmo nos momentos mais difíceis. Nossa superação deixou claro que poderíamos estar melhor no campeonato se tivéssemos pelo menos apresentado um empenho tão proeminente, pois empenho é competitividade, e na maioria das vezes remove obstáculos ditos intransponíveis.

Interessante a forma com que o adversário avançava contra nossa equipe que esperava atrás e saía com inteligência no contra ataque. Tive a nítida impressão que eles davam como certo os três pontos. Eu vi um jogo deles contra outro adversário, faz umas duas semanas no máximo, e a postura deles era completamente diferente, pois marcavam atrás e saíam também com mais parcimônia. Contra o Bazar, embora já tivéssemos roubado algumas bolas e ativado o Pallermo pela ponta direita algumas vezes com perigo, eles vinham em bloco pelo meio e tentavam explorar a velocidade de um bom jogador pelo lado esquerdo do ataque. O nosso gol foi produto de uma falha grosseira do goleiro deles e um chute bem dado, com confiança, do Traka, que tem como principal qualidade seus passes e chutes. E em um momento bom, pois o efeito psicológico foi imediato e golpes psicológicos são fundamentais em competições.

O primeiro tempo foi nosso, com força e maior presença objetiva de nosso time, em que pese alguns sustos absolutamente desnecessários, como o pênalti feito, em que brilhou o Diego novamente, confirmando sua excelente fase neste ano. Após o pênalti perdido, o primeiro tempo estava decidido, assim como o jogo, pois na seqüência do mesmo, embora não tivéssemos criado muito mais do que o belo gol do Douglas em bonita jogada, o adversário praticamente nada produziu, a não ser uma situação de boa intervenção do Diego. Talvez o sol, o calor e o ferrolho tenham exaurido não somente nossos jogadores, mas também os adversários...

A não produção do adversário está diretamente ligada à nossa postura dentro de campo, conjugada com nosso empenho, raça, e completa dedicação. Foi uma vitória maiúscula, dessas que só ocorrem quando um time tem potencial. Gostei muito do Morin. Foi sua melhor partida. Não quero ser injusto com o pessoal pois não tenho espaço para falar de todos, mas gostei muito também do Alberto, o Pallermo foi bem na lateral, e o Diego também.

É da natureza humana reagir mal aquilo que não compreendemos. As vezes pessoas mais exóticas, que agem de uma maneira pouco usual, que se vestem de um jeito diferente sofrem um preconceito absolutamente brutal no dia a dia. As vezes o Chico me é absolutamente incompreensível, difícil de entender. Muitas vezes eu o considero muito radical, outras ele me parece desligado, como que se tudo a sua volta não o afetasse, indiferente mesmo. Mas eu gosto muito do Chico. E sei que não há um só membro da comissão do Bazar que não nutra por ele uma grande afeição, pra falar apenas o mínimo. Sei que há uma alma absolutamente generosa dentro deste corpo que se veste de forma tão original. Sei que seu coração é bom, e que suas atitudes muitas vezes mais se assemelham a uma criança frustrada do que a alguém que deliberadamente tenha maldade. Há sinceridade em suas atitudes, uma ingenuidade que muitas vezes beiram a pureza. Ele não é santo, mas não há nele nenhum pecado que alguns de nós não tenhamos experimentado em nossa ainda curta existência. E não tenho dúvida alguma que ele sempre agiu como técnico pensando naquilo que ele acha que seja o melhor. Respeitemos sua atitude de se afastar do comando técnico.

Só queria dizer com isso que eu senti, e acredito que todos da comissão, muito ausência do Chico no jogo de sábado.