PAULO SANT'ANA - COLUNA DE 02/04/2010
Onde estão aqueles encontros musicais e de churrascos de todos os sábados à tarde, quando nos enlevávamos com os ritmos e as melodias, as brincadeiras, os casos contados debaixo de risadas, como se a tardinha nunca fosse terminar?
Onde está aquele fim de todas as tardes quando corríamos pressurosos para o bar da Salgado Filho, cada um com sua história para contar, revíamo-nos todos os dias, mas parecia em cada ocasião que não nos encontrávamos havia anos?
Onde está aquela camaradagem de encantos no conversar, no cantar, no rir, no relembrar, onde está aquele rememorar de sonhos, aquela despreocupação com a vida, aquela irresponsabilidade de não pensar no futuro, aquela louca aventura de todas as noites em bate-papos e conversações que não tinham fim?
Onde estão as brincadeiras de todos os modos, aquela pequena multidão de vozerios e gritos incontidos, aquela improvisada hora de calouros, as risadas, a noite vindo e a madrugada chegando e nós sem nos fartarmo-nos, uns indo embora, outros chegando, a esquina fervilhando, nós sem nenhuma dúvida, sem nenhuma incerteza, a vida era tranquila e não nos enchia de medo que nossos bolsos estivessem vazios de dinheiro?
Onde está aquela sensação de vida estuante, sem dores, sem infortúnios, aquela alegria sem razão, aquele encantamento apenas com os acontecimentos que se desenrolavam na agitada roda de encontros de todas as noites, inseparavelmente de todas as noites, nem me lembro se nos alimentávamos e o que bebíamos, o que sei é que ia chegar o dia seguinte e na noite seguinte estaríamos todos ali novamente a celebrar a vida na roda de amigos que pareciam prometer que nunca iriam mais se separar ao longo dos tempos?
Onde está o Moscão? Onde está o Rubinho? Onde está o Sarará Vilmar? Onde está o Chiquinho, o Fogão, o Alfredo Cabeça de Diabo? Onde está Silvio Pirilo? Onde está Nazário, o velho que sempre vinha acompanhado dos cães e motivava a zombaria de todos nós, entusiasmados com seus xingões e investidas?
Onde está a barbearia do seu Alduíno, o barbeiro Coró, incrivelmente conseguindo se formar em Direito em troca de barbas e cabelos?
Onde está o jogo de dadinhos debaixo dos cinamomos e os carteados até quase manhã cedo, o dominó, o jogo de pauzinhos, a vibração que sempre tomava conta de alguém quando acertava no jogo do bicho, patrocinando a roda de cervejas e refrigerantes?
Onde foram parar os fantasmas da minha infância e da minha adolescência? Por que não me acodem agora neste tempo de tantas vicissitudes? Por que me abandonaram e me deixaram ao desamparo?
Por que não mais colore a minha semana a noite das quartas-feiras de serestas no bar Van Gogh da João Pessoa, os cavaquinhos, os violões, o surdo, enfileirados, alçando-nos a uma beatitude musical e poética que pensávamos nunca mais iria findar por ser eterna?
Onde foi parar o mergulho no arroio? Aquelas diárias incursões até o arroio da olaria. Onde foi parar o gibi, o furtivo escutar do rádio, o bilboquê, a brincadeira de roda, a festa de São João, a Bandeira do Divino? Para onde foram, em que espaço da memória se refugiam a corrida pelos campos e as subidas no Morro da Polícia para colher macela?
Em que escaninhos da vida foram parar os flertes, os namoros, a febricitante sensação dos namoros, a imagem da menina amada a povoar os sonhos de todas as noites?
Onde foram parar as luas e os ventos dos arrabaldes? Onde se esconderam as pandorgas e a única bicicleta que havia entre tantos meninos, invejada bicicleta?
Em que lugar obscuro, enfim, foi parar a felicidade? Por que não se mostra mais a nenhum de nós.
Por que não voltam as alegrias, por que cessa a esperança?
Não seria possível uma última reprise?
Onde está aquele fim de todas as tardes quando corríamos pressurosos para o bar da Salgado Filho, cada um com sua história para contar, revíamo-nos todos os dias, mas parecia em cada ocasião que não nos encontrávamos havia anos?
Onde está aquela camaradagem de encantos no conversar, no cantar, no rir, no relembrar, onde está aquele rememorar de sonhos, aquela despreocupação com a vida, aquela irresponsabilidade de não pensar no futuro, aquela louca aventura de todas as noites em bate-papos e conversações que não tinham fim?
Onde estão as brincadeiras de todos os modos, aquela pequena multidão de vozerios e gritos incontidos, aquela improvisada hora de calouros, as risadas, a noite vindo e a madrugada chegando e nós sem nos fartarmo-nos, uns indo embora, outros chegando, a esquina fervilhando, nós sem nenhuma dúvida, sem nenhuma incerteza, a vida era tranquila e não nos enchia de medo que nossos bolsos estivessem vazios de dinheiro?
Onde está aquela sensação de vida estuante, sem dores, sem infortúnios, aquela alegria sem razão, aquele encantamento apenas com os acontecimentos que se desenrolavam na agitada roda de encontros de todas as noites, inseparavelmente de todas as noites, nem me lembro se nos alimentávamos e o que bebíamos, o que sei é que ia chegar o dia seguinte e na noite seguinte estaríamos todos ali novamente a celebrar a vida na roda de amigos que pareciam prometer que nunca iriam mais se separar ao longo dos tempos?
Onde está o Moscão? Onde está o Rubinho? Onde está o Sarará Vilmar? Onde está o Chiquinho, o Fogão, o Alfredo Cabeça de Diabo? Onde está Silvio Pirilo? Onde está Nazário, o velho que sempre vinha acompanhado dos cães e motivava a zombaria de todos nós, entusiasmados com seus xingões e investidas?
Onde está a barbearia do seu Alduíno, o barbeiro Coró, incrivelmente conseguindo se formar em Direito em troca de barbas e cabelos?
Onde está o jogo de dadinhos debaixo dos cinamomos e os carteados até quase manhã cedo, o dominó, o jogo de pauzinhos, a vibração que sempre tomava conta de alguém quando acertava no jogo do bicho, patrocinando a roda de cervejas e refrigerantes?
Onde foram parar os fantasmas da minha infância e da minha adolescência? Por que não me acodem agora neste tempo de tantas vicissitudes? Por que me abandonaram e me deixaram ao desamparo?
Por que não mais colore a minha semana a noite das quartas-feiras de serestas no bar Van Gogh da João Pessoa, os cavaquinhos, os violões, o surdo, enfileirados, alçando-nos a uma beatitude musical e poética que pensávamos nunca mais iria findar por ser eterna?
Onde foi parar o mergulho no arroio? Aquelas diárias incursões até o arroio da olaria. Onde foi parar o gibi, o furtivo escutar do rádio, o bilboquê, a brincadeira de roda, a festa de São João, a Bandeira do Divino? Para onde foram, em que espaço da memória se refugiam a corrida pelos campos e as subidas no Morro da Polícia para colher macela?
Em que escaninhos da vida foram parar os flertes, os namoros, a febricitante sensação dos namoros, a imagem da menina amada a povoar os sonhos de todas as noites?
Onde foram parar as luas e os ventos dos arrabaldes? Onde se esconderam as pandorgas e a única bicicleta que havia entre tantos meninos, invejada bicicleta?
Em que lugar obscuro, enfim, foi parar a felicidade? Por que não se mostra mais a nenhum de nós.
Por que não voltam as alegrias, por que cessa a esperança?
Não seria possível uma última reprise?
*Coluna publicada na página 39, da Zero Hora do dia 02 de abril de 2010!
Comentários
Postar um comentário