A GRANDE DECISÃO!


Eu não era bom no gude. A começar pelo meu nhaque, que era... como direi para não chocá-los? Digamos que meu nhaque chamar-se-ia, em termos publicáveis, cloaca. Ou ânus de galinha.

Enfim.

O problema é que esse tipo de nhaque não tem muita propulsão. E, também, não se podia dizer que minha pontaria fosse bem calibrada. Então, eu me dava mal no gude, perdia minhas águidas todas. Craque era o Edu Brites, o nhaque mais potente do IAPI. A bolinha saía da mão do Edu feito um tiro de tresoitão, quebrava a joga da gente ao meio.

Aliás, o Edu era o tipo de cara bom em tudo. Existem caras assim. Ele jogava bem gude, boco, pião, bafo, pingue-pongue e, o mais importante, futebol. Tinha um chute de entortar travessões, o Edu Brites.

Só tem o seguinte: não me ganhava no botão. Ninguém me ganhava. Para se ter uma idéia da minha craqueza: nós jogávamos campeonato valendo botão. Comecei com um time humilde, contratado às pressas, meus puxadores tinham no máximo duas camadas e alguns não passavam de uma. Acho até que coloquei um panelinha de improviso na lateral-direita. Mesmo assim, ganhei tantos títulos que chegou um momento em que 11 times dividiam a caixa de sapatos onde se concentrava a delegação.

* * *

Agora um trauma: nunca tive Estrelão. Manja Estrelão, o campo do futebol de botão da Estrela? Pois é. Nunca tive. Uma careza. Jogava no parquê mesmo, minha mãe enlouquecia porque o assoalho ficava todo dentado pelas fichas. Estrelão era coisa rara na turma. Até que um dia resolvemos nos profissionalizar. Saímos pela Zona, um pedia madeira, outro pedia tinta, outro pedia grana mesmo. Conseguimos montar um baita estádio de botão, coisa mais linda. Era do tamanho de dois Estrelões, seria o Serra Dourada do botão. Ou melhor: o Maraca.

Organizamos um campeonato para inaugurar o estádio. E, pela primeira vez, não valia botão: valia taça e medalha. Taça e medalha, cara! Jamais havia ganho uma única taça, uma única medalha. Disputei todos aqueles torneios de colégio, torneio de futebol, de gaita de boca, de nilcon, participei de todas as corridas de carrinho de lomba, de bicicleta e até de patinete, joguei tudo, sem ganhar uma só medalha, uma só taça, ainda que pequenina. E agora poderia me redimir! Sim, porque ninguém me bateria no botão, no botão eu era o maioral, o kid, o Pelé, o John Travolta, o Wianey Carlet!

* * *

Começou o campeonato. E comecei a ganhar deles todos. Ganhei do Edu, do Barril, do Zoreia, do Languiça, do Apara Peido, do Floxo. Cheguei à final. Meu adversário era o Diana, aquele que era chamado de Diana porque tinha uma cadelinha chamada Diana. Meu, eu jogava muito mais do que o Diana. Sempre ganhava dele quando nos enfrentávamos no parquê, se bem que, preciso reconhecer, no parquê o mando de campo era meu. Mas jogava mais do que ele em qualquer lugar e, como minha campanha fora melhor, só necessitava do empate para levar a taça e a medalha. Barbada.

Porém, mal o jogo havia iniciado, o Diana, CABUMBA, meteu um gol lá do meio do campo. Mas que bá. Fiquei meio zonzo. Até porque a turma, em volta, vibrou. Pensei: pô, os carinhas estão torcendo pro Diana? Malditos traidores. Fui para cima dele. Pressão total. Só que, por algum motivo, os chutes dos meus atacantes não entravam. Pegava na trave, batia no goleiro, riscava o poste, o zagueirão de três camadas tirava. Não entrava! Aquilo foi me enervando. A partida durava 10 minutos e cinco já haviam se passado. Lá pelos seis, a bolinha caiu a um palmo do meu meia Rivellino, um puxador de duas camadas muito elegante, azul em cima, branco em baixo, as bordas numa inclinação de 25 graus, que é a inclinação perfeita para um meia de botão. Rivellino. Que jogador! O goleador e maior astro do time. Um verdadeiro ídolo, os outros botões seguiam sua liderança. Pois o meu Riva mandou um chute de revesgueio, a bolinha saiu alta, fez tzin!, chocou-se com o travessão e... gol do David!!! Para minha surpresa, o pessoal vibrou também! Ah, eles queriam era sacanear. O problema foi que já na saída o Diana deu um chutinho de nada, um pum, mas a bolinha rolou como uma moeda e entrou no meu gol. Faltavam uns dois minutos e meio, a turma não parava de fazer barulho em volta, eu pressionando, eu chutando, eu tentando, e nada.

Aí a bolinha parou diante do Rivellino outra vez. Respirei fundo. O jogo ia terminar. Como diriam os narradores, estávamos no apagar das luzes, não havia tempo para mais nada, era o último cartucho.

Fiz pontaria.

Respirei fundo de novo.

Assestei a ficha em cima do botão.

Anunciei: — A gol!

O Diana: — Chuta!

Respirei fundo pela terceira vez. Pensei na taça. Na medalha. Finalmente teria uma taça e uma medalha! Meu coração se apertou, ao lembrar delas, tão faiscantes. E aí minha mão pesou e a ficha escorregou. O Riva deslizou torto, bateu torto na bolinha e, para meu desespero, foi para fora! O jogo terminou. A turma vibrou.

Cara, fiquei nervoso com aquilo de taça e medalha e perdi! É por isso que entendo as exigências de uma decisão. É por isso que sei o valor de quem não se abala numa final.

*(texto de David Coimbra, publicado na Zero Hora de 18 de junho de 2008)

Comentários

  1. Simplesmente fantastico, sem explicação era extamente assim por ai em todos os bairros, pena que as gerações de hoje nem têm ideia disso, abraço!

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  2. Caro Felipe,aqui é o nando reis/emerson leão e quero desbafar um pouco aqui,se me permitas.Hoje,no Bazar tive uma GRANDE DECEPÇÃO COM DUAS PESSOAS:CELSO BIAL E CARLOS BUDA.esse primeiro,confesso,admirava bastante mas depois do que fez hoje,sinceramente...quanto ao último,eu já estava ficando impaciente com algumas brincadeiras dele,hj foi a gota d'água.Hoje,como tenho feito nos últimos dias,fui no Bazar para encontrar os amigos e jogar conversa fora com eles,mas,acontece que para algumas pessoas dali,só entra no meio quem sabe jogar bem botão,quem não é de nada ou não joga há tempo,está fora.Digo isso pq o sr:Celso Bial(botonista medíocre,diga-se de passagem e q se rebaixa para rebaixar os outros)e notório puxa-saco do Buda(não sei pq)começou a enaltecer o Buda botonista e,no meio disso falou o segunte:''mas o maior massacre q o Buda deu,acho q o maior do Bazar,foi o que ele fez neese gurizinho aqui(eu),nesse daqui(como se eu fosse um m...)''e continuou:''nesse jogo eu me diverti muito,o Buda fez o que quis com esse daí(eu)''e acrescentou:''jogar com o noir é que nem bater num cara em cadeira de rodas,o cara não é de m...nenhuma''finalizou.Quanto ao sr:Carlos Buda,ficou enaltecendo esse grande feito dele de me ganhar de 4x0(sendo que eu não jogo a bastante tempo e tenho desvio de defcit de atenção)e ainda(perguntei pra ele pq ele ao fez um DVD desse jogo)e começou a tirar onda de um lance meu de um jogo meu contra o Eduardo Almeida(e o Bial junto,tripudiando tbm de forma desrespeitosa).Até q eu perdi a cabeça(já estava irritado c/as brincadeiras do Vicente sobre o meu cabelo)fxinguei todo mundo de palhaço(pra não dizer coisa pior)e peguei o meu banquinho e saí de mansinho.Respeito é bom e eu gosto,sempre tratei muito bem essas pessoas,mas depois de hoje NÃO QUERO MAIS SABER,SOU DE GUARDAR RANCOR SIM!Sei q não estou 100% certo,mas esse sou eu:esquentado,que não se rebaixa para agradar gregos e trioanos e paciencia,tem limite!O véio acho certa a minha atitude em parte,ele já timha me alertado q isso poderia acontecer,mas,como já disse,não me rebaixo para ser o ''amiguinho'' dos outros.Vejo o Futebol de Mesa como um meio para se divertir e conquistar amigos e os mais experientes sempre incentivando os menos experientes a jogarem,não para tripudiamentos,arriações desrespeitosas e falta de respeito com o próximo.FIQUEI MUITO CHATEADO COM ISSO.Ficarei um tempo indeterminado sem ir no Bazar para evitar esses dois cidadãos,mas,não quero perder o contato com pessoas como tu,Quinhos e o Cassiano q são os q tenho melhor afinidade ali além dos outros q não tiveram nada a ver com isso.Um abraço a todos e Feliz Natal.

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  3. Noir, muita calma nessa hora. O limite para as brincaeiras deve partir de ti. Se não gosta desta ou aquela brincadeira deves deixar claro desde logo, senão o pessoal abusa mesmo. Tenho certeza que a intenção deles não foi a de te magoar ou tentar te diminuir... apenas te pegaram num dia sem muita paciência. Acontece com todo mundo... tem dias que nem eu suporto as brincadeiras. Relaxa meu guri... heheheh. Grande abraço e feliz natal p ti e tua família!

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  4. Noir...tenta manter a calma..é dificil mas tenta...não vale a pena se stressar...

    Feliz Natal a todos aí, manda um salve pro Paulo Policia.

    Abraço

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  5. Bah...esqueci de falar sobre o post.

    Muito legal esse texto...impressionante como o David relata em detalhes que parecia que ele jogava os campeonatos na minha rua tambem...rsrs

    Bah...eu tinha o Raí, um botao laranja e branco...camisa 10. Muito goleador...um craque.

    Que saudade daqueles tempos.

    Abraço

    Quinhos

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  6. Show esse post!Recordei um pouco da minha infância...
    Lembrei também que alguns anos via o Mônica e o Boquinha passar pela Fernando Machado em pleno Domingo com um xalingo nas costas, depois de jogarem botão de segunda a sábado no bazar!(kkkkkkkkkk). Deixo aqui também um Feliz Natal a todos os amigos do Bazar Mimo, boas festas Professor!

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  7. Cara eu nem tava la nas mesas quando o noir fico brabo, tentei faze ele volta la pra cima e ele disse que tavam tripudiando dele, ele so pode ta falando de mim pq fui o ultimo que ele viu quando tava brabo hehehehehehe e eu nunk ia fica folgando no noir pq eu ganhei dele nao folgo em ninguém por causa dessas coisas de jogo vo folga no pobre coitado do noir que nao sabe nem segura uma ficha vai se fude e se nao que brinacadeiras entaum tb nao brinca!!!

    Buda

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  8. E muito fera a historinha!!!

    Eu sempre borro as calça quando faço campeonato com meu irmao!!!

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