BEM APROPRIADO O TEXTO...
NOSSAS QUALIDADES ATRAEM HOSTILIDADE
Flavio Gikovate
11 de março de 2012
Crescemos e nos formamos levando em consideração,
basicamente, aquilo que ouvimos dos nossos pais e professores.
Por influência deles, somos levados a concluir que
é conveniente sermos pessoas boas, esforçadas, trabalhadoras e gentis com os
nossos colegas, uma vez que este é o caminho para sermos aceitos e queridos por
eles.
Uma das mais desagradáveis surpresas que muitos de
nós tiveram ao longo da adolescência reside no fato de que, exatamente
por sermos portadores de tais qualidades, somos muito mais hostilizados
que amados. A ideia de que o acúmulo de virtudes despertará o amor das pessoas
parece lógica, de modo que quase todos se esforçam nesta direção.
Só não agem de modo legal aqueles que não
conseguiram o desenvolvimento interior necessário para, por exemplo, controlar
seus impulsos agressivos ou renunciar a determinados prazeres imediatos em
favor de outros, maiores, colocados no futuro.
Assim, ao longo da vida adulta convivem dois tipos
de pessoas: aquelas que conseguiram vencer estes obstáculos interiores e se
tornaram criaturas melhores e outras que não foram capazes de ultrapassar estas
primeiras e fundamentais dificuldades – e que se esforçam ao máximo para
disfarçar suas fraquezas.
As primeiras são as que saíram vencedoras no
primeiro combate importante da vida, o de “domesticar” seus próprios impulsos
destrutivos, e se transformaram em criaturas portadoras das propriedades
humanas que somos unânimes em catalogar como virtudes.
O que acontece? Os perdedores se sentem incomodados
e humilhados pelo fato de não possuírem igual capacidade de controle interior.
Este dado é muito importante, pois indica que,
independentemente do que digam, os perdedores sabem perfeitamente quais são as
virtudes e as apreciam; não aderem a elas porque isto implica em um esforço que
não são capazes de fazer.
De todo modo, os perdedores – que adoram desfilar
como “superiores” e indiferentes às questões da moral –, por se sentirem
humilhados, também se sentem agredidos pela presença daquelas virtudes em uma
outra pessoa que não neles próprios.
Comparam-se com o virtuoso, consideram-se
inferiores a eles, sentem-se por baixo, irritados com a presença daquelas
virtudes que adorariam possuir. A vaidade dos perdedores fica ferida e eles,
como têm pouca competência para controlar a agressividade, saem atirando
pedras.
É claro que tais pedradas têm de ser sutis para que
não denunciem todos os passos do mecanismo da inveja: reação agressiva derivada
de suposta ofensa na vaidade daquele que se sentiu inferiorizado por não ter as
virtudes que lhes provocaram a admiração.
Sim, porque o invejoso admira muito o invejado;
senão seria tudo totalmente sem sentido. Saber que o bandido inveja o mocinho é
uma das razões da esperança que sempre tive no futuro da nossa espécie.
A agressividade sutil derivada da inveja nos
derruba, entre outras razões, porque ela vem de pessoas que gostaríamos que nos
amassem.
Afinal de contas, nos esforçamos tanto para
conseguirmos os bons resultados justamente para ter essa recompensa. É difícil
para um filho perceber que suas qualidades despertam em seu pai emoções
contraditórias: por um lado, a admiração se transforma em inveja, de modo que o
pai se ressente da boa evolução do filho.
O mesmo acontece entre mães e filhas, sendo
inúmeras as exceções onde a admiração não dá origem à vertente invejosa.
As “agulhadas”, as indiretas e as observações
depreciativas e inoportunas próprias da inveja existem de modo muito intenso
entre irmãos (eternos rivais), entre marido e mulher, assim como em todas as
outras relações sociais e profissionais.
É praticamente impossível uma pessoa se destacar
por virtudes ou competências especiais sem ser objeto da enorme carga negativa
derivada da hostilidade invejosa.
O mais grave é que não fomos educados para isso, de
modo que nos surpreendemos e ficamos chocados ao observarmos esse resultado. A
decepção é tal que muitos se desequilibram quando atingem algum tipo de
destaque, condição na qual são levados a um estado de solidão – o oposto do que
pretendiam.
Uns se drogam e outros tratam de destruir
rapidamente o que construíram, de modo a deixarem de ser objeto de inveja.
Tudo isso é, além de triste, inevitável, ao menos
no estágio atual do nosso desenvolvimento emocional. Poderíamos ser ao menos
alertados por uma educação mais sincera e sem ilusões.
Toda ilusão trará uma desilusão!
A maior parte das pessoas jamais imaginou, por
exemplo, o volume de problemas e de decepções por que passam as moças mais
belas, especialmente quando isso se associa a uma inteligência sofisticada e a
uma formação moral requintada.
São portadoras daquelas virtudes que mais aparecem
e encantam a todos. São, por isso mesmo, objeto de uma hostilidade inesperada e
enorme. Ficam totalmente encurraladas e quase nunca sabem como sair da situação
a não ser destruindo algumas de suas propriedades.
Eu acho que entendi o que o texto traz, mas ele me parece um pouco maniqueísta. Acho que há mais complexidade nas inter-relações. Há uma nítida divisão entre bons e maus, vencedores e perdedores, virtuosos e não virtuosos, belos e feios... Penso que temos sempre a idéia de nos colocarmos como seres bonzinhos, educados para sermos "éticos" quando na realidade nossa moral nunca vai ser totalmente satisfatória, e trazemos muito mal dentro de nossos corações por mais que nos esforcemos em "agirmos como pessoas de bem". Afinal, temos nossa cota de amor, e é impossível amarmos mais do que podemos amar. Achei o texto simplista.
ResponderExcluirCoelho
Também acho, mas um assunto com esta complexidade dificilmente poderia ser tratado com profundidade em uma pequena crônica. De qualquer forma, ao menos no meu enfoque, alguma reflexão ou compreensão de determinados fatos e/ou condutas pode ser melhor entendido. Abraços
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